domingo, junho 8, 2025
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Milhares de pessoas celebram Dia de Iemanjá em cerimônias no Rio

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Afoxé Filhos de Ghandi realiza uma das festas mais tradicionais

 

 

Vitor Abdala – Repórter da Agência Brasil

Yemanjá sobá. Sobá mirerê. Vou chamar minha mãe, na beira do mar. Vou chamar minha mãe, ela é Iemanjá, a rainha do mar. Mãe d’água, rainha das ondas, sereia do mar. Mãe d’água, seu canto é bonito quando tem luar. Como é lindo o canto de Iemanjá, faz até o pescador chorar.

Foto: Tomaz Silva-Agência Brasil/Divulgação

Iemanjá, Yemayá, Yemoja, Dona Janaína. São algumas das variações do nome desse orixá, adorado na África e em regiões que receberam a diáspora africana, como o Caribe, os Estados Unidos e o Brasil. Orixá do povo egbá, da nação iorubá, a rainha do mar é festejada neste domingo (2) por milhares de fiéis.

No Rio de Janeiro, umas das celebrações mais tradicionais é realizada há 49 anos pela Associação Afoxé Filhos de Gandhi, cuja procissão culminou em um balaio de flores oferecido à divindade, na Baía de Guanabara. Na Praia do Arpoador, milhares de pessoas participaram de uma celebração em homenagem a Iemanjá, com a entrega de oferendas diretamente no oceano.

A mitologia de Iemanjá, assim como de muitos populares orixás africanos, não é única, mas apresenta várias versões. O que elas têm em comum é a associação da divindade com a água.

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Para o povo egbá, Yeye Omo Ejá, ou “a mãe de peixes”, era a deusa do rio Yemoja. Ao serem obrigados a se mudar, devido a guerras em seu território, os egbás migram, se instalam às margens do Rio Ogun, onde hoje fica a Nigéria, e ali a a ser a nova morada de Iemanjá.

É atribuída a Iemanjá, também, a criação dos rios e lagoas do planeta. E é dela o título de mãe de todos os orixás. Com a escravização de povos africanos, inclusive aqueles da etnia iorubá, o culto chegou ao Brasil.

E, ao se estabelecer aqui, o orixá é ressignificado. Fortemente atrelada ao mar, ela ganha múltiplas personalidades (Yemanjá Ogunté, Yemanjá Assabá e Yemanjá Assessu são algumas delas), através das religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé.

a também a ser associada a outras figuras religiosas ou mitológicas, como Nossa Senhora (dos católicos), Iara (dos mitos indígenas brasileiros) e ao mito das sereias. Sendo considerada a mãe dos orixás, é associada também a uma figura materna.

Rio de Janeiro (RJ), 02/02/2025 – Mãe Marlene de Oxum, durante celebração do Dia de Iemanjá, na Associação Filhos de Gandhi na zona portuária do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Iemanjá representa tudo, nossa força, nossos ancestrais, nosso equilíbrio; é a dona das águas,  diz  Mãe Marlene de Oxum. Foto: Tomaz Silva-Agência Brasil/Divulgação 

“Iemanjá representa tudo, nossa força, nossos ancestrais, nosso equilíbrio. É a dona das águas. É ela que lava nossas cabeças e perdoa tudo o que a gente venha cometer, porque ela lava alma e coração”, diz a líder religiosa Mãe Marlene de Oxum.

Mãe Marlene acrescenta que a divindade é popular inclusive entre aqueles que não são fiéis de religiões de matriz africana, como as pessoas que entregam oferendas a Iemanjá ou pulam sete ondas na virada de ano. “É um orixá universal, então todos levam presentes para ela. É uma forma de agradecer pelo ano.”

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O culto a Iemanjá é tradição na família de Márcia Glória Lima. Sua mãe, seguidora da umbanda, já tinha adoração pela rainha do mar. Márcia, fiel do candomblé, manteve uma relação especial com o orixá. “Minha história com Iemanjá é uma história bonita. Cheguei a pensar que fosse ‘filha’ de Iemanjá durante muito tempo, mas sou ‘filha’ de Oxum. De qualquer forma, Iemanjá é tudo em nossas vidas, é a mãe de nossas cabeças. Antes de ‘nascermos’ para qualquer orixá, somos ‘filhos’ de Iemanjá.”

Ao que tudo indica, a tradição seguirá com a filha Débora e a neta Diana, que acompanhavam Márcia na celebração do Dia de Iemanjá, na zona portuária do Rio de Janeiro.

Filhos de Gandhi

Rio de Janeiro (RJ), 02/02/2025 – Filhos de Gandhi celebra Dia de Iemanjá na zona portuária do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Filhos de Gandhi celebram Dia de Iemanjá. Foto: Tomaz Silva-Agência Brasil/Divulgação 

A celebração da Associação Afoxé Filhos de Gandhi começou logo cedo, antes das 8h, com uma cerimônia de xirê, quando os líderes religiosos montaram o balaio de flores a ser presenteado a Iemanjá.

Por volta das 9h, uma procissão seguiu por cerca de 1,5 quilômetro pela zona portuária, desde a sede da associação até um pequeno atracadouro na Praça Mauá, onde os fiéis seguiram, em um barco, para depositar sua oferenda nas águas da baía.

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Ainda no meio da procissão, os fiéis fizeram uma parada especial no monumento do Cais do Valongo, patrimônio mundial, local onde, durante o período colonial, funcionou um dos maiores portos de desembarque de escravizados africanos de todo o continente americano.

“Dia 2 de fevereiro é o início das atividades dos Filhos de Gandhi durante o ano. E a gente inicia com louvor a Iemanjá, que é a mãe de todas as cabeças e é a senhora que conduz a nossa instituição”, afirma o presidente da associação, Célio Oliveira.

O cineasta Rodrigo Moraes produziu um documentário sobre a história dos Filhos de Gandhi no Rio de Janeiro, associação fundada em 1951, com apoio de moradores da zona portuária, de trabalhadores do Cais do Porto e de adeptos de religiões de matriz africana, que se tornou uma referência de preservação da cultura negra na cidade.

“Iemanjá tem uma importância muito grande para os Filhos de Gandhi. E essa festa é a mais tradicional de Iemanjá do Rio de Janeiro”, diz Moraes, cujo documentário Exu Mensageiro, que conta a história dos Filhos de Gandhi (também responsáveis por um tradicional bloco carnavalesco carioca), estreia neste domingo.

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