Nosso povo, diante da atual crise, reage de modo diversificado. No entanto, boa parte da população enfrenta o momento atual sem perder a confiança nas instituições democráticas: este é um saldo positivo, que faz honra ao povo brasileiro. Diante dos recentes acontecimentos, grupos representativos da sociedade, se reuniram para avaliar a situação e buscar uma saída para a crise. Nestes dias, em Brasília, o Senado Federal convocou uma I (Comissão Parlamentar de Inquérito) para tratar o assunto da covid-19. Denominador comum desta Comissão foi a indignação ante a corrupção impune e a falta de ética na vida política.
A pandemia nos convida a fazer um rigoroso exame de consciência a nível pessoal e social para identificar os deveres, inerentes à nossa cidadania e às falhas no nosso sistema de convivência social. A lição mais importante é ter constatado o valor fundamental da ética na vida política: ela, de fato, é a pedra angular não só da vida política, chamada a servir o bem comum, como, também, de todas as relações humanas. Veio, também, revelar que o atual sistema neoliberal de concentração de renda é corrupto e cruel, pois busca a vantagem de poucos em detrimento do bem geral do povo: nesta pandemia, os ricos se tornaram mais ricos e os pobres mais pobres.
Terceira lição: a política não é apenas tarefa de alguns. Todos somos chamados a dar nossa contribuição em promover o bem comum. Temos que assumir, com maior consciência e responsabilidade, o nosso compromisso cívico, a começar pela obrigação de votar de modo coerente, procurando informações sobre o candidato, o partido e suas propostas. É nosso dever, também, acompanhar a atuação dos eleitos e participar dos Conselhos municipais e das Organizações pela moradia, cultura, lazer e outras iniciativas.
Quarta lição: recusar o apoio a pessoas e partidos, que pregam a redução do Estado e das políticas públicas, por ter descoberto de que em nossa sociedade existe uma luta de classe: uma elite financeira busca levar vantagem em tudo sobre as categorias mais pobres, dos trabalhadores e operários. A concentração de renda é geradora de desemprego e fome: há ainda um aprendizado a ser feito no amadurecimento da nossa cidadania. As manifestações populares destes dias expressaram bem a consciência do povo na bondade do sistema democrático, o único capaz de assegurar a paz social e dar uma atenção especial às categorias mais desprotegidas da sociedade.
Quem não fica perturbado, nos dias de hoje, perante a vertiginosa subida dos preços de remédios, alimentos, transportes, água, luz e gás? E do descaso do governo em conter a pandemia? Cresce o desemprego e é assustador o número de famílias sem recursos para sustentar seus filhos: o povo atravessa uma fase de empobrecimento sem precedentes. A riqueza nacional aumenta só para um lado…! Nesta fase de purificação coletiva, aprendamos as preciosas lições da crise: dar prioridade aos valores éticos, repudiar o sistema capitalista-neoliberal, que nos rege, participar da vida política, colocar os pobres no centro, em vista de uma sociedade mais livre, justa e fraterna.
(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano e vigário cooperador da paróquia São José, Serra-ES.)
Foto do destaque: Arquivo TC Digital