SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em mais um dia de volatilidade no mercado financeiro global, o dólar ganha força frente ao real enquanto as negociações na Bolsa de Valores brasileira oscilam, refletindo preocupações sobre a inflação mundial potencializada pela alta dos alimentos e da energia.
Às 12h02 desta quarta-feira (1), a moeda americana subia 0,94%, cotada a R$ 4,79. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, ganhava 0,16%, depois de ter recuado no final da manhã acompanhando a abertura negativa do mercado de ações dos Estados Unidos.
Em Nova York, o indicador de referência S&P 500 cedia 0,68%, aprofundando o tombo de aproximadamente 15% desde janeiro. Os índices Dow Jones e Nasdaq recuavam 0,57% e 0,06%, respectivamente.
O preço de referência do petróleo bruto despencava 4,59%, com o barril do Brent cotado a US$ 117,20 (R$ 554,15). O tombo ocorre, porém, após a commodity ter superado os US$ 120 nesta terça (31). Investidores ainda digeriam a decisão de líderes da União Europeia que baniu importações de petróleo russo.
Na véspera, a sessão no mercado brasileiro também foi marcada pela volatilidade, sobretudo no câmbio.

O sobe e desce da moeda decorre da formação da Ptax, taxa que serve de referência para a liquidação de contratos em dólar. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições.
No mês, a moeda americana registrou desvalorização de 3,82%, a maior para um mês de maio desde 2009, quando recuou 10,3%. No ano, a divisa a a marcar depreciação de 14,75%.
Com isso, o real teve o terceiro melhor desempenho mensal entre alguns de seus principais pares emergentes, atrás apenas do rublo russo (alta de 16,5%) e do peso colombiano (valorização de 5,1%).
A trajetória de maio, no entanto, foi tortuosa. O dólar chegou a acumular alta de cerca de 4,3% no mês até o dia 9, quando globalmente investidores sentiam a pressão de juros mais altos em meio a preocupações com a China.
Posteriormente, uma combinação de dados norte-americanos ainda fortes, mas com leituras sugerindo inflação próxima do pico, amenizou receios de estagflação, abrindo espaço para uma retomada do apetite por risco que beneficiou as mais variadas classes de ativos, entre as quais o câmbio emergente.
Sobre o próximo mês, junho historicamente é de queda do dólar. Desde 2003 a moeda recuou em 14 ocasiões e subiu em 5. O dia 15 será particularmente importante, quando tanto o banco central norte-americano quanto o brasileiro anunciarão decisões de política monetária com potencial de mexer com os cenários traçados até aqui por analistas.
O economista-chefe do BV, Roberto Padovani, ponderou que sua expectativa é de dólar forte no mundo com juros em alta e crescimento mais fraco, o que teoricamente pressiona para baixo os preços das commodities -cuja escalada esteve por trás da valorização recente do real.
“Essa combinação em tese mais do que compensa os juros elevados do Brasil”, disse.
“O segundo semestre no Brasil vai ser ruim para o mercado cambial. Além dos fatores externos, teremos aqui desaceleração econômica importante nesse período, e historicamente menos crescimento não atrai capital”, afirmou. “Se você combina desaceleração global, local e eleições aqui, isso se traduz em aumento de risco.”
BOLSA FECHA O MÊS COM ALTA DE 3,2%; NO ANO, SOBE 6,2%
Na Bolsa de Valores, o índice acionário Ibovespa encerrou a sessão desta terça em leve alta de 0,29%, aos 111.350 pontos, com ganhos acumulados de 3,22% em maio, e de 6,22% no ano.
Contribuíram para o desempenho positivo da Bolsa no dia os papéis da Petrobras, que acompanharam a alta em torno de 1% do barril do petróleo do tipo Brent no mercado internacional, com ganhos de 0,76% das ações ordinárias da estatal.
Os papéis da Eletrobras, que na véspera recuaram cerca de 3%, com indefinições sobre o processo de privatização, fecharam nesta terça em alta de 0,33%.
O setor financeiro também favoreceu o desempenho positivo da Bolsa, com alta de 1,52% das ações do Banco do Brasil, e de 0,93% do Itaú. Já as do Bradesco fecharam em alta de 0,59%, enquanto as do Santander avançaram 0,18%.