Por
Claudio Caterinque
Repórter
O ano de 2023 ficou marcado pela mobilização da sociedade mateense e regional que resultou em um abaixo-assinado com mais de 12 mil s em prol do curso de Medicina no Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes) e também pela criação da Universidade Federal do Norte do Espírito Santo (Ufenes). Mas essa luta começou muito antes, como lembra a presidente da Associação de Ex-alunos do Ceunes, Mady Oliveira. “Curso de Medicina já é uma realidade”, reforça.
Apesar de o ex-diretor do Centro, Roney Pignaton, em entrevista nesta semana para a Rede TC de Comunicações, afirmar que os movimentos em prol do curso de Medicina teriam iniciado em 2014, Mady lembra que os primeiros os foram dados antes, ainda em 2012. Segundo a ex-aluna, naquele ano foi criado um grupo, coordenado por ela, que fez os primeiros estudos para a nova graduação.
No entanto, Mady afirma que as expectativas foram frustradas porque “a Ufes [Universidade Federal do Espírito Santo] entendeu que não tínhamos condições de ter o curso naquele momento”. Depois, em 2014, ela salienta que o movimento foi reforçado, o que resultou na criação de uma comissão e apresentação de mais estudos e documentos complementares à Ufes.
O processo foi paralisado por anos, inclusive no período de cinco anos de suspensão de abertura de novos cursos de Medicina por decisão do governo do ex-presidente Michel Temer. Mas, em 2023, o movimento em prol do curso de Medicina no Ceunes foi retomado com mais força. O abaixo-assinado, conduzido pela Associação de Ex-Alunos, com forte atuação da Prefeitura de São Mateus, foi entregue pelo ex-prefeito Daniel Santana nas mãos do presidente Lula durante agenda no Espírito Santo para inaugurar o Contorno do Mestre Álvaro, na Serra.

Foto: Divulgação
“É fruto de todo um trabalho. Na gestão anterior [do prefeito Daniel Santana] foi levado para dentro da [Secretaria de] Educação, das escolas municipais, estaduais. Então, houve a adesão de toda sociedade civil naquelas doze mil s que foram entregues [ao presidente Lula]. Naquele momento, todos nós estávamos trabalhando em função do curso de Medicina. E claro, evidente, fazendo pressão para a questão da Ufenes [elevação do Ceunes a universidade federal], que é a nossa meta macro” – declara.
Mady cita atuação de Belinelo e Novo HRAS como peças importantes na conquista
A ex-aluna do Ceunes Mady Oliveira cita ainda a atuação do ex-professor do Ceunes Valdenir José Belinelo, assassinado em março de 2012, e também a construção do Complexo de Saúde do Norte, onde irá funcionar o novo Hospital Roberto Arnizaut Silvares (HRAS), como peças importantes para a conquista do curso de Medicina. Inclusive, quando foi morto, ele estava cedido ao Governo do Estado e atuava como diretor do HRAS.
Segundo ela, como Belinelo também atuava no hospital, ele integrou a primeira comissão criada para defender a Medicina no Ceunes. Mady diz entender que, desta vez, o curso está sendo garantido também pela pressão que a sociedade regional faz pela independência do Centro Universitário. “Eu acho também que foi um pouco da pressão de a gente correr atrás da universidade. Eles [reitoria da Ufes] entenderam que estava na hora de apresentar para a sociedade algo importante porque, para a gente aqui, é importantíssimo esse curso. E agora saiu [as obras estão em andamento] o novo [Hospital] Roberto Silvares, que lá em 2012 a gente já calculava novas reformas para que transformasse o hospital em escola. Tanto é que o Belinelo estava lá [na comissão] para isso” – acrescenta.
“Pressão aqui do Norte é maior e isso é indiscutível”
Outro fator que Mady Oliveira cita como importante foi o envolvimento da sociedade civil na luta pelo curso de Medicina no Ceunes. Segundo ela, “foi dando tudo muito certo porque essa pressão aqui do Norte é maior e isso é indiscutível”.
Mady afirma estar muito feliz com a vinda do curso público de Medicina para São Mateus. Lembra que no primeiro estudo já havia o detalhamento da importância da graduação na região, até mesmo para obter uma melhor estrutura hospitalar.
“Fizemos o levantamento porque a gente queria o curso de Medicina aqui no Norte. Visto que temos uma malha rodoviária por onde am pessoas de diversos estados e a gente carece de um hospital melhor para dar assistência no sentido mais macro da questão por conta da complexidade dos casos das pessoas que se acidentam e muitos não conseguem chegar na capital [Vitória]” – frisa.
Em relação à luta pela Universidade Federal Norte do Espírito Santo (Ufenes), Mady defende que ela é necessária justamente por conta da autonomia nas decisões em âmbito local. “Todo esse trabalho em função do curso que se deseja criar e em cima das demandas que vão aparecendo também estão relacionados com a luta pela autonomia do Ceunes”.
“Não tem mais como retroceder”
Reforçando que o curso público de Medicina em São Mateus já é uma realidade, Mady Oliveira afirma que, agora, a conquista é um caminho sem volta. Ela lembrou de todas as dificuldades enfrentadas ao longo desses anos de luta, inclusive da suspensão de abertura de novos cursos de Medicina no País e outros problemas no governo Bolsonaro. “Ele [o ex-presidente] queria acabar com as unidades. Mas agora já é realidade. Não tem mais como retroceder”.
“Eu percebi que essa notícia, digamos, era verdadeira e daí eu falei assim: ‘poxa vida, é verdade’. E a luta continua. É muito bom lutar junto, coletivamente. Não importa se todos não têm a visão que a grande maioria tem de ter o curso de Medicina. Fui questionada por médicos, professores, doutores, lá em Vitória. Quando eles me perguntavam: ‘tá, vocês estão querendo a universidade, mas quem que vai lá dar aula?’ Eu prontamente respondia: ‘que tal se você for para lá [São Mateus], tenho certeza que não vai sair infeliz, vai ser a pessoa mais feliz do mundo’. E aí os professores começavam a rir” – comenta.
Segundo Mady, a preocupação da Ufes era realmente sobre o corpo docente do curso, entendendo que as universidades federais brasileiras têm muito cuidado com a qualidade do curso de Medicina. “Então eu entendo porque naquele momento, em 2012, eles não caminharam com o nosso pedido”.
CREDIBILIDADE DA TC
Mady Oliveira afirma que percebeu que a vinda do curso público de Medicina para São Mateus era verídica quando leu a Reportagem do jornal Tribuna do Cricaré, publicada no dia 29 de maio, onde o ministro da Educação, Camilo Santana, confirmava para o senador Fabiano Contarato que havia parecer favorável do MEC.
“Quando a Tribuna do Cricaré anuncia, porque a TC não fica trazendo notícias falsas, fala de uma forma diferente, a gente já sabe que é real. E tem também o contato que a gente tem com os políticos, aqueles que são mais reais com a situação nossa aqui, que têm maior entendimento, que não estão brincando de fazer política e nem estão brincando com a gente. Mas devemos tudo isso a toda a sociedade, com toda certeza”.
RECADO AOS MÉDICOS
“Agora um recado para os médicos: a Medicina é real, doutores, nós precisamos de todos, principalmente de vocês”. – complementa a presidente da Associação de Ex-Alunos do Ceunes, Mady Oliveira.
Foto do destaque: Divulgação