NEUTRALIDADE NAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS NO OCEANO PACÍFICO CONTRIBUÍRAM PARA VOLUMES ACIMA DA MÉDIA NO ESPÍRITO SANTO, INCLUSIVE EM SÃO MATEUS, CONFORME METEOROLOGISTAS
Por
Claudio Caterinque
Repórter
São Mateus – Condições climáticas adversas e a transição entre o fenômeno conhecido como La Niña para a neutralidade contribuíram para um volume de chuva maior que a média para o mês de maio no Espírito Santo, inclusive em São Mateus. De acordo com meteorologistas entrevistados pela Rede TC de Comunicações, as condições para chuvas devem permanecer no mês de junho, mas dentro da normalidade. As projeções também indicam para um Inverno típico. A estação tem início no Hemisfério Sul no dia 21 do próximo mês.

Conforme dados das estações meteorológicas instaladas em São Mateus apurados pela Reportagem, as chuvas de maio, até a tarde desta sexta-feira (30), já eram até cinco vezes o previsto para o mês. Localizada no Bairro Litorâneo, a estação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou 263 milímetros de chuvas neste mês. Já a estação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), localizada em Guriri, registrava 280,8 mm até esta sexta-feira.
Segundo a série histórica apurada pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), a média de chuvas para maio fica entre 40mm e 60mm. Ou seja, o volume de chuvas é de quatro a cinco vezes o esperado para o mês.
GURIRI
Com o volume expressivo de chuvas, Guriri, mais uma vez, enfrenta problemas com o acúmulo de água em alguns pontos. As vias centrais do balneário, nos últimos dias, ficaram intransitáveis, apesar do aparato da Prefeitura que busca escoar a água acumulada. Já os moradores de outros locais mais afastados da área central estão sofrendo também há dias com as vias alagadas. O fotógrafo Thiago Rabelo enviou imagens de alguns pontos que ele registrou nesta sexta-feira por meio de drone e fez a seguinte afirmação: “Parece uma ilha dentro da Ilha [em referência à Ilha de Guriri]”.

INTERIOR
Porém, não é somente na cidade que aparecem os transtornos que ocorrem após período chuvoso. Na tarde desta sexta-feira, o tecenauta Osmácio Torres enviou imagens da estrada das Meleiras afirmando que a via está praticamente intransitável em alguns trechos devido a buracos e poças d’água.
Chuvas de maio contribuirão para manter reservatórios abastecidos na seca, avalia meteorologista do Incaper
Vitória – O meteorologista do Incaper, Ivaniel Fôro Maia, afirma que as chuvas acima da média em maio poderão contribuir para manter os reservatórios abastecidos no período de estiagem, que tradicionalmente ocorre dos meses de agosto até meados de novembro. Segundo ele, a chuva tem se comportado de maneira anormal, acima da média para o mês de maio, por conta de uma irregularidade na transição entre o fenômeno conhecido como La Niña e a neutralidade.

“O período do Verão e esse começo de Outono, pela transição da estação, ela [a chuva] foi anormal, ou seja, o que era para chover no mês de abril e no mês de março, ficou mal distribuído naquele período, tendo em vista que estávamos numa fase de transição de um fenômeno climático da La Niña que estava atuando com maior força no final do ano ado e começo deste ano. Aí entrou numa fase neutra” – detalha.
De acordo com Ivaniel, já era para estarmos entrando num período de redução de precipitações. “Porém, nós já vínhamos observando que a chuva seria dentro do normal ou acima da média em alguns pontos. Na porção noroeste, as chuvas têm se comportado dentro do normal, ou seja, está confirmando ali a previsão que nós tínhamos feito. No noroeste do estado não tem chovido tanto como tem chovido no litoral e na região serrana do Espírito Santo”.
O meteorologista explica que a chuva fora dos padrões para o litoral norte do Estado está sendo provocada pelo efeito de borda dos sistemas de alta pressão que atua nesta porção. Ele afirma que a chuva é provocada principalmente pela umidade transportada pelo mar.
No entanto, ele prevê que as precipitações devem continuar pelo menos neste final de semana, mas a expectativa é que no mês de junho as chuvas voltem para dentro da média.
Fim de semana deve ter frio e menos chuva
São Mateus – A frente fria que avança pelo Sul do Brasil deve atingir de forma mais intensa o norte do Espírito Santo neste fim de semana. Com isso, os próximos dias devem ser de temperaturas mais baixas e poucas chuvas.
Porém, de acordo com a Coordenação de Meteorologia do Incaper, neste sábado, último dia de maio, a umidade transportada pelos ventos costeiros mantém a instabilidade em todo Espírito Santo. “Previsão de chuva em alguns momentos do dia em todas as regiões, sendo menos frequente no sul e trechos da região Serrana. O vento sopra com intensidade fraca a moderada pelo litoral”. As temperaturas devem variar entre mínima de 21ºC e máxima de 29ºC no litoral norte.
Já para domingo, primeiro dia de junho, a instabilidade perde força sobre o Estado. “Previsão de chuva rápida na madrugada e manhã no litoral norte e Grande Vitória, com tendência de tempo aberto nos demais períodos”. A temperatura deve ficar entre 22ºC e 27ºC em São Mateus.
A tendência para segunda e terça-feira é que a instabilidade do mar deve ser transportada para o continente por conta dos ventos costeiros, o que pode provocar chuvas rápidas e queda de temperatura, principalmente no litoral norte capixaba.
Meteorologista do Inmet explica neutralidade entre El Niño e La Niña

Brasília – Em entrevista à Rede TC de Comunicações, a meteorologista do Inmet, Danielle Barros Ferreira, explica que, atualmente, o Oceano Pacífico está sob neutralidade. Ela detalha que não se trata nem do fenômeno El Niño, “que é o aquecimento das águas do oceano”, e nem da La Niña, “que é o resfriamento”.
Segundo a meteorologista, as temperaturas na porção equatorial desse oceano estão próximas de 0ºC na superfície. “Então, a gente diz que está na neutralidade, que refere-se ao estado do Oceano Pacífico Equatorial em que a temperatura da superfície do mar não varia significativamente da média histórica. Ou seja, a temperatura está dentro de uma faixa de -0,5°C a +0,5°C” – afirma.
A especialista salienta ainda que não há impactos significativos em nível de Brasil. “No caso, essa chuva é muito mais local. É um sistema meteorológico que ocorre normalmente e a gente está no Outono. E aí a gente tem um avanço maior de frente fria, e, na medida que avança para o Inverno, essa chuva tende a continuar dentro da normalidade” – enfatiza.
De acordo com Danielli Ferreira, a previsão para junho para todo o território do Espírito Santo é ter chuvas dentro da normalidade, de 20mm a 80mm, a depender da região. “Para julho e agosto, tem uma redução dessas chuvas. Em julho, a gente já espera que chova entre 10mm e 70mm e, agosto, entre 20mm e 60mm”.
Ela explica ainda que a faixa litorânea sempre está propícia a ter a ocorrência de mais chuva. “No interior do Brasil já não tem tanto porque segue o comportamento de redução da chuva”, complementa.