Por
Tatiana Milanez
Repórter
O Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) foi acionado pelo apicultor Aldo Batista dos Santos, morador de Boa Esperança, após verificar a morte em massa de abelhas em seu apiário na semana ada. Em entrevista à Rede TC de Comunicações, ele detalha que cerca de oito apiários com caixas de colmeias formadas foram perdidas com a morte das abelhas. A causa da morte está sendo investigada pelo Idaf, que deve apresentar o resultado em até 30 dias a contar do dia 8 de maio, quando realizou a coleta de amostras de abelhas.
A autarquia estadual ressalta encaminhou o material coletado para análise em laboratório vinculado ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em Goiânia, estado de Goiás. “Não há um prazo determinado, mas o Idaf estima que em até 30 dias receba os resultados” – reforça.

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De acordo com o Idaf, a análise clínica da médica-veterinária do Instituto, que esteve no local, permitiu constatar que a morte em massa não se refere a doenças das abelhas, sobretudo por conta da ausência de pragas nas colmeias e mortalidade acima de 30% dos enxames. “Diante disso, suspeita-se de eventual intoxicação, porém apenas com o resultado da análise será possível indicar a causa” – enfatiza.
NOTIFICAÇÃO
O Idaf reforça a obrigatoriedade de que a mortalidade de abelhas, ou ainda a suspeita de doenças nesses animais, seja notificada ao órgão. Conforme a autarquia, esse procedimento é essencial para que o Serviço Oficial avalie o ocorrido e, se necessário, adote as medidas sanitárias preconizadas para o controle.
Apicultor diz que os apiários têm dez anos de produção e que terá que começar do zero
O apicultor Aldo Batista dos Santos cultiva abelhas desde 1990 em Boa Esperança. Segundo ele, o principal objetivo é contribuir com os cafeicultores através do trabalho de polinização feito pelas abelhas, além da retirada do mel, que é realizada uma vez por ano. No entanto, segundo Aldo, esse trabalho foi temporariamente encerrado devido à morte em massa das abelhas de seu apiário ocorrido na semana ada.
De acordo com o esperancense, cerca de oito apiários com caixas de colmeias formadas foram perdidos após a morte das abelhas e uma média de 60 enxames morreram, todos no mesmo dia. Ele explica que é a primeira vez que vivencia um episódio dessa proporção. “Chamei o Idaf, que é o órgão competente, para analisar o que aconteceu. Acho que não foi doença. Parece envenenamento” – frisa.

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Questionado pela Reportagem sobre o prejuízo estimados com a morte em massada das abelhas, Aldo salientou que, considerando a paixão que possui pelos animais, é incalculável.
“Já na questão econômica, ano ado, por exemplo, colhi uma tonelada e meia de mel, mas o propósito não é colheita de mel e sim criação de abelha e polinização do café, por isso o prejuízo é grande. Com a perda dessas abelhas agora, cerca de 20% da produção de café vai reduzir. Não é fácil. Esses apiários têm dez anos de produção e agora vou ter que começar do zero. Talvez eu consiga aproveitar as caixas, mas preciso testar se as abelhas vão ficar na mesma caixa. Do contrário, descarto e vamos investir em caixas novas” – detalha.
Abelhas-europeias são mais resistentes, explica professor
As abelhas-europeias, que, em geral, são criadas em apiários para produção de mel e polinização de lavouras, foram trazidas para o Brasil para serem cultivadas e são mais resistentes que as abelhas nativas. A afirmação é do coordenador do Laboratório de Genética, Evolução e Conservação de Abelhas Nativas (Labelhas) do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes), Vander Calmon Tosta, que também é professor universitário.
“Essas abelhas-europeias, mesmo sendo espécies exóticas, são importantes. Todas as abelhas em geral são importantes. As abelhas-europeias são até mais resistentes do que as nativas, então, se produtos agroquímicos matam essas abelhas de criação, provavelmente são mais ofensivos às abelhas nativas, que são menos resistentes” – sustenta.

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De acordo com Vander, as abelhas são responsáveis por mais de 70% da polinização da Mata Atlântica, ambiente predominante no Norte capixaba. “Atualmente sabemos que as abelhas também são importantes para o produtor rural por aumentar a produção de café, por exemplo, entre 25% a 30%. Também não podemos demonizar os agroquímicos [usados nas plantações], precisamos deles. O problema é o mau uso desses produtos nas lavouras. As concentrações não adequadas e a falta de controle na comercialização, por exemplo” – frisa.
Em relação à morte das abelhas em Boa Esperança, Vander acredita que, por se tratar de mortandade acima de 30% dos enxames, foi dificilmente provocada por doença.
Idaf reforça importância das abelhas e cuidados para evitar envenenamento
O Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) salienta, por meio de nota, que as abelhas exercem papel fundamental na garantia da biodiversidade mundial e da produção de alimentos. A autarquia reforça que 75% das culturas alimentares em todo o mundo depende da polinização realizada por insetos. As abelhas são especialistas no processo de polinização. Por isso, cuidados precisam ser tomados para evitar envenenamento.
“Algumas medidas são fundamentais para garantir o bom convívio entre as áreas de plantio e os apiários, como evitar a aplicação de agrotóxicos nos períodos de florada. A comunicação também é muito importante: criadores de abelhas devem informar aos agricultores de sua proximidade com as áreas do plantio; agricultores devem avisar quando forem pulverizar os cultivos. Além disso, as duas partes devem definir um local seguro para a transferência das caixas ou decidirem pelo seu fechamento durante as aplicações” – orienta.
“Uma aplicação feita indevidamente, sem respeito às orientações técnicas, pode induzir à deriva do produto, ou seja, o deslocamento da nuvem de aplicação fora do local em que ele deve se depositar. Caso essa deriva chegue às colmeias, principalmente se o produto for inseticida, inevitavelmente levará à mortalidade das abelhas. Por isso, é preciso que os aplicadores observem, por exemplo, as condições meteorológicas e os períodos recomendados para que não haja prejuízos” – complementa o Idaf.
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